domingo, 30 de setembro de 2007

NÁUFRAGO...

É pessoal, eu bem que tentei viu... mas, pelo menos para mim, escrever de ressaca ainda é um grande desafio a ser vencido... Visto que a dias não posto, e para não deixar o espaço passar em branco, e aproveitando as garrafas vazias, segue adiante uma reciclagem de um antigo texto. Publicado originalmente em 23 de janeiro de 2006. É bem provável que esteja cravejado de erros e discrepâncias... no dia eu não estava com as idéias lá muito centradas... e hoje me bateu preguiça de revisar. Espero que compreendam.
Aí vai...

Message in a Bottle

Certa vez escrevi uma carta sem destinatário...
Como uma mensagem na garrafa.
Daquelas que os náufragos atiram ao mar.
É bem provável que ninguém a tenha lido. Pena... é triste ver palavras desperdiçadas.
Palavras são preciosas e costumam nos faltar quando mais precisamos. O destino daquelas certamente foi se desmanchar nas rochas, arremessadas que foram, pelos ventos fortes e mar revolto, contra o paredão.

O mar é implacável trazendo o vento nas cristas das ondas...
Nada que não lhes seja do desejo sobrevive a tão monumental avanço. Carrascos, mar e ventos, que consomem as minhas palavras!
Mesmo assim, nos dias em que me consomem as lembranças, gosto de me assentar sobre as pedras e observar. Mar e ventos, ventos e mar, dançam uma morosa e ritmada dança... vão e vem... vem e vão...

Desperdiçadas as palavras, que me custa gastar também alguns instantes? Não que sejam menos preciosos, talvez até valham muito, pois não nos cabe saber quantos ainda nos restam. Se raros, devem ser caros, pois assim não fugiriam à regra.
Não me importo... Sejam eles fartos ou ínfimos, não carregam valor em si. Valem sempre a totalidade daquilo em que são aplicados, gastos ou utilizados.
Ignorando um provável novo desperdício, me permito estar lá... e por longos instantes, lá permaneço.

Assisto ao mar... mar que arremessa o vidro... vidro que se espatifa contra a pedra... pedra que permanece ali... Inerte, impávida e fria. Inúmeros cacos que se fragmentam formando novos e menores estilhaços. Minúsculas centelhas que se precipitam no ar, refratando a luz que sobre elas incide. E eu... Aaaa... Eu caprichosamente, enquanto observo seu efêmero cintilar, as imagino como uma nuvem do pó de estrelas... O brilho se esvai e eu permaneço lá ainda mais alguns instantes... observando aquele amontoado de palavras espalhadas sobre a superfície áspera do paredão, ali, soltas enquanto as ondas continuam a castiga-las. Pouco a pouco elas se desmancham... O texto se embaralha, esfacelando literalmente o sentido... Uma nova onda vem, e as frases perdem o nexo... Ainda uma terceira, das palavras tira o significado... Logo não existe quase nada para ser visto ali... Apenas a rocha e as intempéries que a lapidam. É inacreditável mas... algumas poucas letras sempre resistem incrustadas nas reentrâncias da crosta áspera... Com o tempo estas também cairão, vencidas pela rigidez e vigor do vento, do mar e da pedra... Palavras, frágeis que são, não resistem muito tempo em tão revolto Ambiente. E assim também se vão... vagarosamente dissolvidas em sal.

Quando o último ponto se esvai, o ponto que encerra o assunto, assim dito, ponto final, e nunca antes disso, calmamente me levanto, espano as areias, talvez farelos remanescentes do que outrora teriam sido outras palavras... e penso... “Estas imagens me inspiram... são tantas idéias... há tanto ainda por dizer! É... Sem dúvida, preciso arrumar logo outra garrafa”.

Bem pessoas, o texto termina aqui, e por hoje, por aqui também vou ficando. Uma ótima semana para todos.

Tudo de bom!

E no radinho...
Outra mensagem, só que num ritmo mais suave.
Message in a Bottle – John Mayer


2 comentários:

Flavia Melissa disse...

engraçado vc falar disso, porque uma vez escrevi uma carta e coloquei numa garrafa que, devidamente, foi jogada ao mar. eu tinha uns 12 anos e era apaixonada por um menino loiro e lindo que morava no baiiro ao lado do meu na praia, e eu tinha esperanças que o mar levasse a garrafa até ele, que ele a encontrasse na praia.
não sei o que aconteceu com ela, eu nunca mais vi o tal menino.
mas o fato é que, passados 16 anos, o tal cara é hoje dono da empresa de descupinização que está tratando a minha casa na praia. eu não sabia disso, nem me lembrava disso. até hoje, quando ele chegou na minha casa depois de um pedido de orçamento que eu fiz.

quase caí de costas!
sincronicidade é isso...

beijos e beijos!

THUNDER disse...

Pois é Flavia... aos 12 anos é normal fazermos coisas meio bobas (exceto no meu caso, pois continuei fazendo aos 22, aos 32, e provavelmente continuarei assim nos “qualquer coisa” 2 que ainda estão por vir).
Quando crianças, temos mais sonhos, fantasias, menos preocupações e certezas. No fundo... no fundo... acho que esse tipo de mensagem na garrafa, diferente daquelas dos náufragos, não tem destinatário certo. Acredito que sejam uma forma de se livrar de algo que gostaríamos de dizer para alguém, mas que não temos força, coragem, ou algo parecido. Sei lá...! Talvez guardemos a idéia de que, alguém, em algum lugar, conhecerá aquelas nossas palavras, sem que no entanto, isso nos afete, promovendo assim um certo tipo de alívio à distância. Sei lá... sei lá... sei lá!
Se a sua mensagem tivesse um destinatário certo, talvez você tivesse feito como os antigos leiteiros, e colocado a garrafa na porta do moleque hehehehe... Mas aí, nem precisaria da garrafa, bastaria um simples envelope, mas confesso que assim não teria nem um pingo de glamour. Concorda?
É... pois é... pois é! Se não fosse esse capricho do destino, quem save você não seria hoje a senhora descupinização? HAHAHAHAHAHA... E se levarmos em conta os fenômenos da sincronicidade, quem sabe algum dia, quando eu estiver bem velhinho e quando for guardar meus dentes no copinho, não trombo com uma simpática velhinha de olhos azuis?
É garota... esse mundo é redondo, sem início e sem fim... e nele... quase tudo é possível!
Obrigado por comentar.
Bjs e tudo de bom!